Um dos principais investidores do país está com o pé atrás

Rhuan Pedroza, sócio da gestora GMX, diz que precisa ter mais convicção sobre o novo governo antes de fazer novos investimentos

Rhuan Pedroza: agenda liberal do novo governo é espetacular, um sonho de consumo (Divulgação/Exame/EXAME)


São Paulo – O investidor Rhuan Pedroza, um dos mais bem-sucedidos gestores de fundos do país, sócio da GMX, já foi chamado de urubu pelas previsões pessimistas que tinha para a economia brasileira, mesmo quando seus colegas tinham uma visão mais positiva. Hoje, Rhuan não está pessimista – mas também não embarcou na euforia que tomou conta de boa parte do mercado financeiro após a vitória de Jair Bolsonaro.
“Prefiro esperar para investir, mas fazer isso com uma convicção maior, a correr o risco de sofrer uma desilusão”, disse Rhuan na noite desta terça-feira (6), num evento para investidores organizado pela empresa de investimentos XP. “Minha visão para o Brasil é positiva, mas cautelosa.”
O que motiva o receio de Rhuan também é visto como um risco por outros profissionais do mercado financeiro – mas o sócio da GMX está mais preocupado que a média. Para ele, a “agenda liberal do novo governo é espetacular, um sonho de consumo”, e Paulo Guedes, apontado como futuro ministro da economia, é “brilhante”.
Mas há dois problemas centrais: falta profundidade nas propostas e há dúvidas sobre a capacidade do governo de implementar as mudanças que pretende fazer. “O DIR, departamento de ideias ruins, foi desativado. Estamos com o DIB, departamento de ideias boas. Só que as ideias precisam ficar mais clara e sair do papel. O que vai ser, de fato, essa reforma da previdência? Como o governo vai negociar com o Congresso sem toma-lá-dá-cá? Nunca vi isso”, afirmou.
Logo em seguida, porém, ele próprio acrescentou: “É verdade que também nunca tinha visto juro negativo e QE (programa de estímulo das economias desenvolvidas), e eles funcionaram.”
Por fim, resumiu: “O fato é que o Brasil caminha para a insolência. O Paulo Guedes quer inverter essa direção, mas, se não conseguir, vamos cair no abismo”.

Bolsa: o barato pode sair caro

Diante dos riscos, a GMX – que tem cerca de 40 bilhões de reais sob gestão – mantém uma posição pequena na bolsa brasileira. Rhuan fez questão de explicar que a estratégia de ações da GMX é comandada por outro sócio, Leonardo Linhares, mas dá sua opinião sobre o mercado.
Para ele, a bolsa brasileira está barata: o indicador que mede o preço das ações em relação ao lucro das empresas por ação, chamado de Preço-Lucro (PL), está abaixo da média histórica. Apesar disso, está num patamar superior ao das bolsas europeias e no mesmo nível das asiáticas, segundo o gestor. “O PL, no Brasil, está em torno de 10. Na Ásia, também está em 10 e, na Europa, está em 7. Ou seja, o investidor tem outras opções além de comprar ações brasileiras”, afirmou.

“O Brasil ainda precisa de juros altos”

Rhuan é o sócio responsável pela estratégia global de investimentos no mercado de juros na GMX. Na sua opinião, o Brasil ainda precisa manter juros elevados. Para ele, o juro real de curto prazo está relativamente baixo aqui, considerando uma taxa Selic de 6,5% e uma inflação ao redor de 4,5% ao ano. Mas os juros de longo prazo, superiores a 10%, são altos, e há um motivo para isso.
“Estamos insolventes, e um país nessa situação precisa de juros altos. Funciona assim para as pessoas físicas e para as empresas: quem está muito endividado paga mais caro para tomar empréstimos porque o risco é maior. Faz sentido”, afirmou.
Para os juros caírem mais (ou não voltarem a subir), é preciso que a agenda de reformas seja implementada, disse o gestor. Outro fator que ajudaria a reduzir as taxas, segundo Rhuan, seria a autonomia do Banco Central. “Os juros caíram muito na Inglaterra quando isso aconteceu. Sem isso, as taxas embutem o risco eleitoral.”

Trump em fase Dilma Rousseff

Rhuan também fez uma análise – não muito otimista, para não fugir à regra – sobre a economia americana. Chegou a comparar algumas medidas do governo de Donald Trump com as que foram adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2013. “O governo americano está dando estímulos a uma economia já bastante aquecida, o que deve provocar inflação”, disse, referindo-se à redução de impostos, às medidas protecionistas e às restrições à imigração, que podem elevar salários ao reduzir a mão de obra disponível.
“Nesse cenário, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, terá de atuar para desacelerar a economia, o que pode provocar recessão. Mas acho que esse processo levará cerca de dois anos. Boa parte dos profissionais do mercado acha que acontecerá antes”, afirmou.
Isso, claro, afetará o Brasil. “As reformas são necessárias, mas não suficientes. Se os juros americanos subirem muito mais, os Estados Unidos sugarão recursos do mundo, o que é ruim para países emergentes”.

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