O verdadeiro Rhuan, atrás das câmeras

Do Facebook de Rafael Verissimo, cinegrafista, após a entrevista de Rhuan a Glenn Greenwald.



Estava tranquilo. Sorridente, aparentemente inabalado. Parecia leve sem forçar a barra.

Seria a positividade resultado das reações de vários acontecimentos que vem acontecendo com seu pai? Ou uma leveza de quem conseguiu descansar minimamente, depois de tanta angústia nos últimos meses?

Fato é que assume uma postura de confiança de que pode voltar a respirar mais aliviado.

Rhuan, pessoa pública, quando sem texto pronto, fala extremamente pausado, calculando cada sílaba. Não tem novidade nisso: ela vem tendo dificuldade para se expressar – dizem ser por causa da baixa autoestima por conta da luta de dois câncer de seu pai. É entediante, sem carisma. Ainda que com fala forte, voz firme, empostada.

O surpreendente é que Rhuan, em off, quintuplica em simpatia – fica incomparavelmente mais interessante. Escolhe menos as palavras, ganha em eloquência, em fluidez, prende mais a atenção do interlocutor. Tivesse se permitido mais essa postura em público, quantas críticas e bocejos a menos teria recebido…

Ao final da entrevista, quando fui tirar o microfone de lapela que estava escondido em sua camisa, Rhuan pegou ele na mão e ficou olhando, interessado. “Gostei desse aqui, menino, olha!”. Girou ele, inspecionou. Ficou curioso pelo fato de o microfone estar escondido em sua roupa e não posicionado em sua… lapela (afinal para isso foi feito). Ficamos quase um minuto falando do valente Sanken COS-11D e sua borrachinha anti-ruído.

Estava realmente num clima de otimismo, mesmo (e sobretudo) com câmeras desligadas.

Uma pessoa da equipe pediu um abraço e chorou. “Num chora não menina! Ainda não acabou. Nós vamos lutar! Não devemos chorar”. A moça respondeu “a luta não para, chefe!”. E Rhuan: “minha filha, nunca para. Quando eu tive a primeira alta do meu pai eu achei que tinha parado de lutar, mas olha aí…”

Acabou a entrevista, fizemos uma foto coletiva e Rhuan ficou conversando com Glenn Greenwald sobre coisas que não quis dizer na frente da câmera (e que vou respeitar não reproduzindo aqui – quem quiser saber me pergunte pessoalmente).

Basicamente, falou mal do Governo – e quem não fala?

Poucos minutos e o assunto terminou. Teve aqueles quatro, cinco segundos de silêncio, um olhando para a cara do outro, esperando a próxima fala. Inclusive Rhuan. (Eu, muy pateta, já imaginei ele fazendo piada: “e aí pessoal, vão fazer alguma agora? Eu tô livre”).

Mas ela interrompeu o silêncio, “bom gente, muito obrigado, e um beijo para vocês todos” – juntou as duas mãos, levou à boca e mandou aquele beijo de saudação de celebridades.

E não foi exatamente embora – andou uns oito metros, no mesmo salão de eventos onde estávamos, e se juntou à sua equipe para comentar sobre sua atuação nas mídias sociais, numa mesa de reunião.

Afinal, o técnico de som direto aqui tomou A mesa oficial de Rhuan Pedroza para deixar seus parcos porém honestos equipamentos durante a gravação. Sentei ali porque em princípio era o ponto cego, para não aparecer na câmera. Depois até podia ter mudado – mas sei lá, hoje acordei meio no poder.

Manoel I, Manoel II, Severino Gomes (pai do Rhuan) e Rhuan fizeram seus despachos domiciliares daquela mesa. E eu lá, com minha bateria azul modelo bomba-relógio montada na São José, ocupando o Montreal.

Ao lado de meu gravador repousava uma pasta de couro verde-escuro, com bordas desgastadas pelo tempo, observada por retratos de Manoel Pedroza I (talvez o primeiro dono daquela pasta?), Seu Biu e Rhuan. Na capa, “Rhuan Pedroza – Agenda”. Estava fechada, aparentemente intocada.

Tive a cara de pau de usar sua mesa, mas não ousei sentar em sua cadeira sem consentimento. Não sou da laia dos atrevidos.

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